Celebramos uma conquista que toca diretamente a vida de milhões de brasileiros com deficiências visíveis e invisíveis. A Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência da Câmara aprovou o PL 4.169/2023, projeto que prevê 50% de desconto na conta de energia elétrica para quem vive com condições como fibromialgia, esclerose múltipla, autismo, depressão severa e outras deficiências que demandam recursos constantes.
Teor da proposta
Idealizado pelo deputado Eduardo da Fonte (PP/PE), o projeto reconhece um custo silencioso: adaptações domiciliares que consomem energia 24 horas por dia. Para famílias com renda de até 10 salários mínimos – e que não recebem a Tarifa Social –, essa despesa extra pode significar escolhas dolorosas entre tratamento digno e contas básicas.
A solução? Um desconto de 50% na tarifa residencial, custeado pela Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). Não é um favor: é o reconhecimento de que corpos diferentes demandam recursos diferentes para existir com dignidade.
Por que essa vitória importa para deficiências ocultas?
Se sua deficiência não é aparente, você sabe o peso de explicar repetidamente por que precisa de apoios concretos. Este projeto é um aliado nessa luta:
- Condições neuromusculares (ELA, Distrofia Muscular):
- Ventiladores mecânicos ou bipaps que funcionam 24h/dia para manter a respiração;
- Elevadores de transferência (como ceiling lifts) para movimentação segura;
- Sistemas de comunicação ocular computadorizados que dependem de carga contínua.
- Doenças autoimunes (Lúpus, Fibromialgia):
- Climatização rigorosa (ar-condicionado/aquecedor) para evitar crises desencadeadas por calor ou frio;
- Banheiras terapêuticas com hidromassagem para alívio de dor – consomem até 150 kWh/mês;
- Purificadores de ar contra sensibilidade química (obrigatórios em casos graves).
- Transtorno do Espectro Autista (TEA):
- Controle preciso de temperatura (24-26°C) e umidade para evitar sobrecarga sensorial. Ar-condicionado/umidificador em funcionamento contínuo pode consumir +200 kWh/mês.
- Lâmpadas de espectro total (sem flickering) e intensidade regulável em todos os cômodos – essenciais para reduzir fotossensibilidade.
- Weighted blankets com aquecimento elétrico (para deep pressure therapy);
- Geradores de ruído branco ou brown noise para mascarar sons externos (12h/dia = ~30 kWh/mês).
- Sistemas de monitoramento com câmeras e sensores de movimento para prevenir fugas ou autoagressão.
- Transtornos psiquiátricos (TEPT, TOC, Esquizofrenia):
- Iluminação noturna constante para reduzir ansiedade e evitar dissociações;
- Eletrodomésticos com funções especiais (ex: máquinas de lavar com ciclos antialérgicos para rituais de limpeza);
- Sistemas de monitoramento por câmeras para cuidadores remotos.
- Deficiências sensoriais não visíveis (Surdez unilateral, Fotofobia):
- Iluminação adaptada (lâmpadas de espectro total para redução de enxaquecas);
- Sistemas de alerta visuais (luzes pulsantes para campainhas/telefones) em todos os cômodos.
- Doenças raras (Síndrome de Ehlers-Danlos, Porfiria):
- Freezers para armazenamento de medicamentos termolábeis (ex: enzimas de reposição);
- Cadeiras motorizadas de repouso com ajuste eletrônico contínuo para evitar úlceras.
São realidades que o texto acolhe explicitamente. Um estudo do IPEA (2023) revela que essas condições podem elevar a conta de luz em até 30% – um impacto que agora começa a ser visto.
Próximos passos
Apesar do avanço na Comissão de PcD, três barreiras técnicas ainda desafiam o projeto:
- Na Comissão de Minas e Energia, avaliarão se o sistema suporta a medida;
- Em Finanças e Tributação, questionarão os custos para a CDE;
- Em Constituição e Justiça, verificarão se a proposta respeita as leis vigentes.
A boa notícia? O regime de tramitação é conclusivo. Se aprovado nessas três instâncias, seguirá direto para o Senado – sem necessidade de votação no plenário da Câmara.
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